A CIÊNCIA É LINDA!
SINOPSES DAS CONVERSAS
#1 \ Energia: Movimento e poder | 22.JAN
A energia é vital para o indivíduo como para as sociedades
Na primeira conversa dedicada ao tema Energia, Ricardo Reis Santos, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (UL) e moderador de serviço, analisou com Susana Solá, da Faculdade de Farmácia da UL, e Andrea Valente, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da UL, a energia enquanto movimento e poder, na perspetiva da biologia e das relações internacionais, respetivamente. As reflexões e troca de ideias entre os oradores e público fluíram de forma tão natural que a hora e meia de conversa passou praticamente a voar, fazendo concorrência à Teoria da Relatividade…
Foi particularmente interessante perceber, através das explicações das cientistas convidadas. que há inúmeras similitudes e paralelismos no que respeita ao papel da energia tanto no funcionamento de um organismo vivo (indivíduo) como no funcionamento das comunidades, dos países.
Se, no indivíduo, a escolha de determinados alimentos é importante para a produção de energia a cargo das mitocôndrias (organelos existentes dentro das células), também quaisquer opções sobre tipos de energia (elétrica, nuclear, renovável) adotadas por cada país têm impacto na saúde das comunidades, das populações e até do planeta. E as semelhanças não acabam aqui . Em ambos os contextos, diversidade é palavra-chave. “A sobrevivência do indivíduo não pode depender apenas de uma única fonte de energia (alimento) sob pena de tal facto causar problemas metabólicos (doenças)”, sublinhou Susana Solá. “Ao nível macro, acontece a mesma coisa, a dependência em relação a uma só fonte energética é altamente nociva e pode causar impactes negativos. Durante anos, o uso prolongado e preferencial por muitos países dos combustíveis fosséis como fonte energética também pode ter causado danos. A face visível destes efeitos negativos podem ser as alterações climáticas”, complementou Andrea Valente.
No meio deste cenário, uma questão impõe-se: “Se as células no indivíduo morrem, o mesmo pode acontecer às sociedades”? “Sim”, concordaram as duas cientistas. Por isso, os esforços de regeneração são essenciais tanto no organismo de um indivíduo, como numa comunidade. Mas, essa finitude é real e o fim das civilizações Maia e Azteca são testemunho disso mesmo, concluiram.
Luísa Botinas
#2 \ Movimento: Imagem e Mecânica | 29.JAN
Ilusão e verdade vistas à lupa
A segunda conversa do ciclo A Ciência é Liiinda, dinamizado pela Câmara Municipal de Lisboa/Economia e Inovação através do projeto Study&Research in Lisbon levou até ao Centro de Informação Urbana de Lisboa Gabriel Martins, investigador do Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular, especializado em “Bioimagem” e a professora de Estudos Fílmicos , Mariana Liz, para falarem sobre Movimento, Imagem e Mecânica. Situados praticamente nos antípodas do que se poderia pensar em termos de ligação entre as respetivas áreas de trabalho, ambos têm, todavia, na imagem em movimento e na mecânica um ponto focal que os aproxima.
Desde os tempos dos pioneiros do cinema que estes dois caminhos se entrecruzam: a representação do real através da imagem e a imagem ela própria como meio para contar uma história. Se a sequência de várias imagens de um cavalo a galope registada pelo fotógrafo Muybridge em finais do século XIX – procurava captar o momento em que o animal toca com as patas no chão – foi apontada como o momento zero ou da origem do cinema, no início do século XX, esta técnica de tratamento da imagem em movimento evoluiu e desenvolveu-se muito, permitindo avanços inimagináveis tanto no campo do cinema como no da óptica aplicada à ciência.
Às imagens em movimento, que por vezes até assustavam os espectadores por parecerem uma ilusão, juntaram-se o som e as histórias e assim nasceu aquilo que conhecemos comummente como a Sétima Arte. Ilusão e movimento, são assim duas palavras-chave que se adequam para entendermos os (inesperados) pontos de contacto entre o cinema e a bioimagem, Quem diria… mas, na verdade, é assim mesmo.
Gabriel Martins, explica que só através da captação de inúmeras imagens e da sua edição e montagem sequencial, conseguiu documentar a evolução embrionária de uma codorniz de forma realista. “Foi através da microscopia e da sobreposição de muitas imagens captadas por várias câmaras durante um período de tempo e com recurso a determinadas técnicas que conseguimos observar de uma maneira não intrusiva, não invasiva, os fenómenos biológicos dentro de um ser vivo”, sublinhou ao detalhar, por exemplo, as virtudes dos dispositivos que realizam as tomografias axiais computorizadas. “Tudo isto tem a ver com ciência, com câmaras e com perceber o movimento”, acrescentou.
“Mostrar a vida como se estivessemos dentro de um organismo”. Para fazermos isto, é preciso manipular as imagens, fazer ilusão”. É como no cinema, sublinha Gabriel que até ilustrou o seu ponto evocando a célebre cena de abertura de “Matrix” com Trinity congelada e suspensa no ar.
O cinema, esse, também coloca em perspetiva o realismo, a ilusão e a verdade. Mariana Liz, enquanto académica, evoca as várias teorias à volta destas questões. “Há quem sustente que a técnica, a tecnologia, o digital veio matar a essência do cinema. No digital as câmaras apenas captam “zeros” e “uns”, deixando-se para trás as imagens por segundo. E há quem diga que com este facto se perde a relação física com o real, já que, com a digitalização, vale tudo”. Deep fake e Inteligência Artificial vieram logo à baila. Mas, isso será tema para outras conversas.
Luísa Botinas
#3 \ Inteligência: Artífice e eficiência multinível | 05.FEV
Máquinas e humanos, uma relação de interesse?
O que é que nos distingue a nós, humanos, das máquinas? Somos mais inteligentes do que elas? Ora, claro que sim! Fomos nós que as criámos. E estas “de inteligente têm pouco, pois foram programadas dentro de regras por nós estabelecidas”, sublinha Hugo Plácido da Silva, engenheiro e investigador no Instituto Superior Técnico, focado no desenvolvimebnto de soluções biomédicas com base em sensores e reconhecimento de padrões. Assim sendo, porquê tanto barulho à volta da inteligência artificial, do ChatGPT, e dos riscos que ela traz? Será que, um dia, as máquinas – com tantos dados que lhes “damos” – ficam “espertas” e podem representar uma ameaça para os humanos que as criaram? E como é que se desenvolve a nossa vida quotidiana, a nossa saúde, o ambiente à nossa volta, no contexto atual?
Foi sobre “Inteligência”– como artífice e eficiência multinível – que Hugo Plácido da Silva falou com Mauro Costa Couceiro, arquiteto e investigador no ISCTE, que se debruça sobre as interações homem-máquina-natureza com recurso à IA e à XR, em mais uma conversa do Ciclo – A Ciência é Liiinda.
As máquinas têm uma capacidade armazenamento e processamento de informação quase inesgotável. Pelo menos, incomparavelmente maior do que os 100 mil milhões de neurónios que cada um de nós tem no cérebro. Daí a necessidade de externalização da inteligência numa máquina…
Posto isto, o que nos torna singulares em relação às máquinas. Por um lado, a consciência. “As máquinas aprendem, são ferramentas que procuram soluções com recurso a dados que lhes fornecemos, mas não têm consciência”, afirma Hugo Plácido da Silva. Serão elas, por isso, ferramentas eficientes nas quais podemos confiar cegamente? E serão inofensivas? Mauro Costa Couceiro alerta: “O risco maior nisto tudo é alguma Inteligência Artificial em modo de autopreservação “convencer-nos” de que devemos alimentá-la para seu proveito próprio”.
Hugo Plácido da Silva acrescenta: “Os riscos desta tecnologia (IA) são maiores do que em qualquer outra tecnologia. “As redes sociais dirigidas pelo algoritmo, alteram as relações interpessoais e conseguem influenciar algumas pessoas, sobretudo, aquelas que têm pouco espírito crítico. E isso tem de ser regulado” insiste.
Portanto, confiar cegamente nas máquina e nas soluções que estas nos apresentam, está visto que não é uma boa ideia. “Temos que perceber como é que a máquina chegou a uma determinada resposta. E isso na Medicina, por exemplo, coloca-se ainda com mais acuidade”, conclui.
Luísa Botinas
#4 \ Ordem: Caos e inteligibilidade | 12.FEV
A explicação do mundo
Adelaide Meira Serras, professora de Estudos Anglísticos na Faculdade de Letras de Lisboa e João Morais Mourato, investigador no ICS, com trabalho sobre a evolução do Ordenamento do Território e as Políticas Públicas, analisaram, a partir de diferentes ângulos, o tema Ordem – Caos e Inteligibilidade na 4ª conversa do ciclo A Ciência é Liiinda. As utopias, distopias e mitos não podiam estar mais… na ordem do dia. Vivemos na era da Ciência, da Tecnologia e da Informação, no âmbito da qual temos o mundo ao alcance de um clic. Algo impensável há umas boas centenas de anos. Cenário utópico e disruptivo para os longínquos velhos do Restelo, mas, que hoje é realidade, fruto da incansável e inquieta curiosidade de inventores e visionários.
Ordem, caos e utopias andam, pois, de mãos dadas. Para a professora da Faculdade de Letras, atualmente, as utopias ganham novos matizes. Por vezes, transformam-se até em distopias, já que “devido ao excessivo otimismo da Ciência, perdeu-se a vertente “esperançosa” do sonho, instalando-se a descrença e a desilusão, devido à ignorância ou à auto-exclusão daqueles que preferem as previsões catastrofistas e os negacionismos”.
Quanto ao território, ordem e ordenamento, quando postos em prática, são conceitos que conferem harmonia e inteligibilidade. João Mourato recorda, no entanto, o exemplo dos tempos da Descolonização na Área Metropolitana de Lisboa para mostrar que do caos nasceu um “ordenamento orgânico”. Complementando de seguida com história das operações SAAL. “Foram um verdadeiro exemplo de utopia aplicada ao território”, diz. “As operações SAAL tiveram subjacentes ideais”, saídos do 25 de Abril, que olhavam para a gestão e planeamento do território como algo positivo, resultante de uma nova relação entre as pessoas (o povo) e os técnicos.
Contudo, o investigador do ICS lamenta: “No mundo de hoje, em que a tecnologia é tão acessível, não há muitos líderes mobilizadores, capazes de agregar os demais em torno de uma ideia ou de uma utopia”.
“O que há é pessoas como Elon Musk. Um conglomerador de boas ideias, mas distópico. Não podemos confundir um desejo hiperbólico de procura pelo lucro capitalista com uma dimensão utópica. Musk é um egoísta puro e um narcisista, nada nele é utopia”, conclui Adelaide Serras.